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Capítulo 8 - Surpresas

Olá leitor, não esqueça de deixar seu comentário no fim do capítulo. Assim eu também posso conhecer sua opinião :D

Aposentos reais

Perto do final da festa, Genevieve foi convidada a se retirar pela corte de Camelot e pelo rei.

Brigitta, sua dama de companhia, ajudou na preparação da princesa para a sua tensa noite de núpcias.

Arthur chegou logo depois dela em seus aposentos, encontrando-a sentada na cama olhando para os próprios pés.

- Posso sentar do seu lado? - ele perguntou, e notou Genevieve corar no segundo em que seus olhares se encontraram.

- Oh, claro, alteza.

- Pode me chamar de Arthur. Não que antes houvesse motivos para formalidades assim entre nós, mas agora é que não existe necessidade mesmo. - ela não o respondeu, apenas concordou com a cabeça. Arthur notou que as mãos da recém esposa não paravam de tremer, por mais que ela tentasse escondê-las entre as pernas.

- Eu sei que não vai adiantar eu dizer isso, mas… O quanto mais calma você ficar, melhor. Posso não entender muito desse mecanismo feminino, mas estou tão nervoso quanto você. Olha para minhas mãos, estão suando - ele disse mostrando a palma das mãos e rindo.

Genevieve riu da situação junto com ele, e por um milésimo de segundo ficou mais calma. Até se lembrar que aquelas mãos suadas a tocariam… Aí a tensão voltou com força total.

- É, melhor eu secar as mãos…- Arthur disse, chegando à mesma conclusão silenciosa da princesa. Ele respirou fundo e as lavou em uma bacia perto da cama. O coração dele estava acelerado, mas tentava não demonstrar.

Ao ver Arthur se virar, Genevieve tomou uma decisão. Ela não evitaria mais algo que era inevitável. Quando o príncipe retornasse, ela não adiaria mais.

Dito e feito. Quando o príncipe retornou, Genevieve quase atropelou as palavras:

- Então, eu acho que não precisamos mais de enrolação… Eu tô nervosa, você está nervoso. É melhor acabar com isso de uma vez. - Arthur ficou surpreso com o que acabara de ouvir, e mal sabia que Genevieve também estava surpresa, sem entender aquele supetão de coragem, mas decidiu continuar. - Você deve ter mais experiência do que eu nesse assunto.

- Nem tanto quanto pensa...Essa noite não é de “primeiras vezes” exclusivas da senhora, princesa. Eu, por exemplo, nunca me casei. Então estamos… quase… no mesmo patamar.

- É isso eu não posso contestar, mas aposto que na sua primeira vez não tinha um bando de enxeridos atrás da porta do quarto, esperando… você sabe o quê.

- Bom, com certeza os enxeridos que estavam atrás daquela mesma porta ali, não estavam bisbilhotando pelos mesmos motivos. Mas estavam. Eles trouxeram uma corte de meretrizes para transformar o príncipe em homem. - ele disse, seco. Arthur não gostava muito de lembrar daquele dia. - Pelo menos você terá que lidar apenas comigo, e eu não sou uma meretriz. - riu e aproximou-se de Genevieve.

- Bem observado. - ela respondeu, notou a aproximação e fez o mesmo. Ainda estava decidida a acabar com aquilo logo de uma vez.

Arthur a abraçou delicadamente, e olhou no fundo daqueles olhos castanhos. O seu olhar perguntava silenciosamente se ele podia continuar. Genevieve consentiu, com o rosto quente.

Cada toque dele provocava arrepios e formigamentos pelo corpo de Genevieve. Ela supôs que aquilo era o que se sentia quando uma pessoa se atraía pela outra. E não estava errada.

Ele foi gentil desde o primeiro dia dela em Camelot. Parecia que gentileza era uma característica marcante do jovem príncipe, e naquela noite ela não poderia ser mais grata por isso.

- Eu estarei ouvindo você o tempo todo, se quiser que eu pare, é só pedir - Ele afirmou mantendo o contato visual e o tom de voz baixo. Genevieve assentiu.

Quando as mãos se tocaram novamente, Arthur percebeu que apesar do rosto quente, a jovem ainda estava com as mãos trêmulas. - Genny, posso te chamar assim? - ele tocou-lhe o rosto. E ela consentiu com um murmúrio baixo. - Certo, eu não vou te machucar… Ou se isso acontecer, eu paro no mesmo instante, não precisa ter medo de mim.

Ela não sentia exatamente medo dele, era mais como uma mistura de sentimentos não muito agradáveis. Sentia medo de não sangrar, sentia apreensão pois a platéia lá fora a pressionava mesmo não estando no cômodo fisicamente, e sentia também curiosidade.

Escolheu não se pronunciar sobre o que acabara de ouvir, mas guardou as palavras com conforto.

- Pode parecer simplista o que eu vou dizer agora, mas é um conselho sábio e serve para mim e para você: Esqueça quem está lá fora, pense que estamos em um lugar onde só existe nós dois.

Arthur acariciou a bochecha de Genevieve. A pele áspera das mãos de um manejador de espadas tocou a pele macia da princesa que se assemelhava a seda.

Finalmente, Arthur se aproximou e envolveu Genevieve em seus braços, depositando beijos ternos na linha do pescoço da princesa e conduzindo-a com gentileza para o centro da cama. Conforme ele a beijava, Genevieve sentiu a tensão deixá-la aos poucos, e o calor desconfortável que parecia surgir sempre que ficava na presença do príncipe, deu lugar a uma calidez que a envolveu e a deixou ansiosa por mais.

Conforme os beijos iam se aprofundando, Arthur notou que Genevieve relaxava e se deixava levar pelo momento. Arthur desamarrou os cordões e fitas que prendiam a roupa da princesa com toda calma que conseguiu reunir. “Pra que tantas fitas?”, pensou, mas não queria voltar a assustar Genny, então obrigou-se a ir o mais devagar possível.

Na verdade, seguir o conselho do marido, de deixar em um canto esquecido da mente os enxeridos que aguardavam do lado de fora, não foi tão complicado. Como pensar em outra coisa com o príncipe cobrindo seu rosto, pescoço, colo e seios de beijos? “Ele deveria me beijar aí?”, ela pensou em um momento, para em seguida esquecer completamente como ligar uma ideia a outra. Ela só foi perceber a roupa frouxa quando Arthur estava deitando-a na cama, sem tirar os olhos ou as mãos da esposa nem por um segundo.

Genevieve terminou de despir-se e deixou que ele fizesse o mesmo. Ela estava tão tensa até pouco tempo que nem tinha notado o corpo do príncipe. Era atlético, havia algumas cicatrizes de combate discretas pelo abdômen do príncipe. E que abdômen, ela notou. Não que já tivesse visto muitos em sua vida de princesa trancafiada, mas era uma bela imagem.

- Qualquer coisa, por favor não hesite em me pedir pra parar.

- Por enquanto, pode continuar…- respondeu, e ele sorriu de lado.

Quando seus corpos finalmente se uniram, Genevieve sentiu certo desconforto, mas Arthur estava tão atento a cada expressão e movimento dela que se interrompia toda vez que ela parecia sentir dor.

- Está tudo bem? Eu posso continuar? - Arthur perguntou, respirando com certa dificuldade.

- Não acabou ainda? Tem mais? - disse Genevieve com os olhos arregalados.

O príncipe soltou o ar em uma risada sem graça e respondeu:

- Um pouquinho mais…

Genny assentiu com a cabeça indicando que ele podia prosseguir.

Mesmo com a consumação feita, ela não pediu pra parar. O desconforto deu lugar a uma sensação completamente diferente. Um sentido de antecipação tomou conta dela, mas não sabia muito bem pelo que ansiava. Ainda assim, notou o cuidado de Arthur em manter-se apoiado na cama. Ele era quase o dobro do tamanho da princesa. Esmagá-la na noite de núpcias era algo fora de cogitação.

Com o tempo, o ritmo lento com o qual Arthur havia ditado desde o início pareceu ser insuficiente para ambos. Ao notar que ela respondia com entusiasmo, Arthur aumentou o ritmo das suas investidas.

Arthur sabia que dificilmente a esposa conseguiria chegar ao clímax na primeira vez, mas queria que a experiência fosse o mais agradável possível para ela. Contudo, não estava preparado para o que sentiu ao olhar nos doces olhos castanhos de sua mulher enquanto conduzia ambos para o fim daquele ato. Algo parecido ocorreu a Genevieve, perdida nas profundezas azuis do olhar de Arthur. Sem saber muito bem o que fazia, movida por impulso, ela acariciou a face de seu marido. E aquele pequeno gesto, tão inocente, foi o que faltava para que o príncipe alcançasse sua liberação e desabasse em cima de Genny com um gemido de satisfação.

“Isso é normal?”, pensou Genny depois de uns minutos. O príncipe parecia adormecido, mas não completamente, pois não a estava esmagando. Com um suspiro ele se moveu, e deitou ao lado dela, puxando-a contra si. E então pareceu adormecer realmente.

“Parece que sim”, ela concluiu.

Genny analisou sua situação o mais criticamente que seu juízo permitiu naquele momento. A coisa toda não foi nem de longe tão assustadora quanto havia pensado. Na verdade, foi agradável, e o final… Bem, ela podia dizer que havia gostado. Gostado bastante, se fosse sincera consigo mesma. Mas o sono também chegou para ela, e o peito de seu marido parecia extremamente acolhedor. Se acomodou melhor e adormeceu.

A primeira coisa que Arthur notou ao acordar foi o frio. Onde tinha ido parar o cobertor? A segunda é que havia alguma coisa segurando seu rosto no lugar e cutucando seu nariz.

Ele abriu os olhos e então notou o porquê do frio repentino.Genny havia roubado o cobertor, tomado conta da cama praticamente inteira e ainda parecia comprometida a segurar o rosto do príncipe como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Arthur sorriu. Sua esposa parecia dormir profundamente, tão enrolada nas cobertas que nem por um segundo pensou em tomá-las de volta. Se alguém parecia confortável naquela cama, era Genevieve.

Logo, a corte entraria para conferir a consumação, muitos protocolos e perguntas indelicadas certamente seriam feitas na frente de Genny… Mas antes disso, Arthur se permitiu observá-la mais um pouco certo de que o que acontecera na noite anterior, não se resumiu à um mero acordo político ou uma união carnal. Não, tinha algo mais. Algo no olhar doce e castanho dela, ou o sorriso no meio dos pequenos murmúrios que fazia dormindo… tão inocente que seria quase um crime acordá-la. Arthur teve a súbita sensação de que jamais se perdoaria se algum mal lhe acontecesse.

Depois de respirar fundo sobre todo o acontecimento, Arthur sentiu um aroma muito suave vindo de Genny. Ontem, estava muito concentrado em não machucá-la que não percebeu o cheiro de lavanda que combinava muito com a suavidade da mulher que dormia ao seu lado. Desejou poder congelar aquele momento.

Mas infelizmente, isso não era possível e ele teria de levantar. Era melhor que ele já estivesse trajado quando estranhos entrassem em seus aposentos. Ele sorriu com os olhos e afastou gentilmente o braço da esposa.

Ele tentava pensar racionalmente, mas a todo momento se perdia pensando em Genevieve. Arthur também ansiava com o futuro. Com o futuro dos dois como líderes de um povo, não que ele duvidasse da capacidade dela para exercer o seu papel, mas ficava curioso para saber a opinião de Genny nas mais diversas questões do reino.

E filhos? Ah, ele pretendia no mínimo cinco herdeiros. Um para cada reino ainda não-aliado. Será que Genevieve se importaria com tantos filhos? Ele esperava que não.

Mas para convencê-la, Arthur pretendia ter essa conversa quando os dois ficassem sozinhos novamente.

E dessa vez, não seria por obrigação.

Arthur retornou a realidade quando ouviu Genevieve murmurar mais alto.

- Bom dia, dormiu bem? - Ele perguntou, feliz.

- Acho que sim - Ela respondeu, ainda sonolenta.

- Eles já vieram aqui?

- Não, combinei com Merlin que só deixasse a porta destrancada ao meu sinal.

- Que sinal?

- Três batidas que darei na porta assim que me levantar.

- Mas antes… - Arthur se aproximou e beijou a testa de Genny - Eu espero que não tenha sido tão ruim, porque para mim não foi.

Genevieve sorriu e respondeu com o rosto quente e rosa ao que acabara de ouvir. Não disse, mas ansiava para que algo parecido com aquele momento acontecesse de novo...e de novo...

Retirar as mãos dela foi quase uma tortura… Mas Arthur se forçou a soltá-la e foi rumo aos bisbilhoteiros.

 

Sala de provas da A.G.A, número 25. Dias atuais.

Todos os arquivos desde a fundação da A. G. A. Ficavam armazenados em 25 salas. Os chefes anteriores gostavam de papel e poeira mais do que Arthur.

O programa para digitalizar todas as provas e fazer um sistema mecanizado para facilitar a procura, nunca foi pra frente com Uther. No entanto, depois de algumas burocracias e investimentos, já estava com todas as provas digitalizadas até o ano de 1960.

Mas o relatório da missão que Celina precisava, era do ano de 1941. E por isso, ainda estava no meio daqueles papéis.

Ela decidiu passar a Luke algumas noções básicas do que houve naquele caso. Tudo o que Celina não queria é que além de idiota ele também fosse perdido.

-Você não me disse a sua idade ainda, quantos anos você tem Celina? - Luke perguntou, realmente interessado.

- O suficiente.

- Suficiente pra quê? Pra morrer?

- Não, o suficiente para saber, por exemplo, a hora de ficar quieto. - Ela respondeu, sarcástica.

- Tudo bem, se não quer me dizer a idade, eu vou adivinhar.

- Haha, duvido.

- A senhora, ou senhorita. Gosta de desafios, primeiro não ri, depois não diz a idade…Não seja por isso. - Luke respondeu, se ela era sua tutora, ele merecia saber pelo menos um pouco.

- Para você, é senhora. É sim, desafios sempre foram interessantes. Eu vou apreciar vê-lo tentar.

- Tá ok. Uns 30?

- Passou longe.

- Mais? Menos? 25?

- Tá fraco.

- Ah, mas se você tiver mais de cinquenta só pode dormir no formol - Respondeu Luke - e quem é que guarda tanto treco? Essa sala está cheia de poeira, não vê um espanador há tempos - Reclamou.

Realmente aquele canto em particular, parecia um pouco sujo, mas nada que impedisse Celina de cumprir o que veio fazer. - Você se surpreenderia se eu te contasse meu segredo de beleza.

- Aqui, falei com Sam e ele me disse que por acaso estava mexendo em alguns casos da década de quarenta outro dia.

- E o que são essas coisas? - Luke perguntou apontando para três objetos junto da mesa, um vaso, um elmo dourado e uma pequena caixa de madeira.

- Provas de algum caso, certamente.

-Disso eu sei, mas olha isso - Luke disse se aproximando do vaso com conteúdo estranho. - Quem fez essa réplica tá de parabéns, porque tá igualzinho um coração real caaaara…

- Mas é real.

- Cê tá brincando né? - Luke perguntou com os olhos arregalados.

- Claro que não, esse coração é de centauro, tá escrito no pé do vaso.

- Centauro? Isso existe? E como que tu consegue ler esses rabiscos?

- Claro que existem, todas as histórias são reais. E eu sei porque sou fluente em grego.

- Tudo é real? Fadas, lobisomens, selkies? Eu achava que só existiam vampiros.

- Tudo isso e muito mais. Com as aulas teóricas você vai aprender a identificá-los, mesmo disfarçados.

- Vish, prefiro aulas práticas - Ele disse com um sorrisinho malicioso -E quanto a zumbis? São reais?

- Zumbis? Claro que não. De onde você tirou isso? - Perguntou Celina, incrédula.

- Você disse que todas as histórias são reais, ué…

- Zumbis foram uma piada que os sims não sobrenaturais inventaram para denegrir a imagem de alguns bruxos. Mas isso não vem ao caso.

-Hmm, ok. E essas outras coisas? Esse elmo pertence à… - Luke chegou perto - Um tal de Lancelot. Quem é?

- Com certeza alguém que já está no túmulo há muito tempo.

- Tem razão, tudo aqui parece velho. Olha só essa caixa…

- Faça o que fizer mas não encoste nela… Já ouviu falar de Pandora?

- Jura que vocês mantém aquela caixa do conto aqui?

- Sim, deve haver algum motivo para estar aqui. Talvez seja analisada no novo sistema…

Enquanto Celina procurava o tal caso, Luke aproveitou a distração da tutora para observá-la. Ele nunca teve dúvidas da beleza daquela mulher…Sempre admirou mulheres com curvas, e as dela, pareciam tão atraentes quanto perigosas.

Desde que se beijaram na boate, não havia uma noite sequer que ele não pensasse em tê-la nos braços novamente. Podia ser meio turrona, fingir que aquilo nunca aconteceu… Mas ele estava disposto a fazê-la relembrar quando tivesse chance.

- Mas… focando no que interessa, esse é o relatório. - Celina apontou para alguns papéis na mesa. Não foi tão difícil.

- Antes que você me mande embora com um monte de dever de casa chato, tem algo que eu queria fazer desde que pus meus olhos em você. - Luke disse com a voz baixa, aproximando-se cada vez mais de Celina.

- Você está chegando mais perto do que o profissionalmente recomendável, Mason. - Celina disse, encostando na beirada da mesa. -É que tipo de coisa séria essa?

- Se eu te chamar de Agente Anderson parece mais profissional?

O rosto de Luke estava quase cinco centímetros de distância do rosto de Celina. Com tal proximidade, era possível sentir sua respiração, e com ela, calor, muito calor. Fazia algum tempo que uma onda de calor tão forte quanto essa invadia o corpo de Celina.

Luke a puxou pela cintura...E com uma habilidosa rapidez (e um pouco de “mão boba”), colou seu corpo do dela. Olhou no fundo daqueles olhos cor de âmbar e a beijou.

Ele poderia ter começado devagar, mas queria ter certeza de ter feito o melhor que pôde caso Celina recusse, não seria por culpa dele.

Porém, a tutora correspondeu mais do que o esperado...Tudo nele era novo, o cheiro de erva-doce e loção pós barba, o toque muito espertinho para o gosto dela...Enfim, era uma novidade que Celina se jogou e esperava não se arrepender.

E quando as coisas começavam e ir para um outro nível...

O celular de Luke tocou. Podia não atender? Sim, mas com uma vida de famoso que ele levava, isso era difícil…

Largou Celina a contragosto e atendeu o telefone, um pouco indignado.

- É melhor que tenha um bom motivo para me interromper no meio de uma missão muito...muito importante. - Luke disse, com uma cara feia.

- Eu prometo continuar de onde paramos, só um minutinho aqui. - Luke disse.

Celina se recompôs, precisava de um pouco de ar. A bruxa parou de pensar no momento em que seus lábios se tocaram. Mas agora, ainda meio atordoada...Refletiu se dar uns amassos no seu novo parceiro era uma boa coisa.

Era bom porque o beijo foi bom...Mas seria bem vista pelo novo chefe, se ele soubesse do ocorrido? A Agência não proibia relacionamentos amorosos entre colegas, mesmo assim os chefes mais conservadores não viam com bons olhos. Isso poderia atrapalhar a tão aguardada promoção?

“O que foi que eu fiz?”

- Não, você tem que dizer ao Pedro que nada de óleo nessa propaganda. Óleo corporal é horrível de tirar! Aquilo é uma verdadeira praga, da última vez demorei três semanas pra tirar aquele treco.

Sem Luke perceber, Celina se retirou da sala. Porque se eles continuassem exatamente de onde pararam, ela sabia o rumo daquilo tudo.

- Tá certo então brother! Ficamos só com algumas loções, mas sem óleo hein!

Ah, claro! Manda um abraço pra ela...Té mais!

- Ué, cadê a Celina? - Luke se perguntou ao desligar o telefone e perceber que a tutora tinha evaporado. - Além de misteriosa...Ela gosta de sumir.

 

Oasis Springs, 1941.

Enquanto corriam em direção à Mina Abandonada, Logan repassou os estranhos acontecimentos daquela manhã em sua mente. Ele não sabia como Celina iria reagir depois da noite anterior, mas também não poderia dizer que estava surpreso com o profissionalismo que ela demonstrou ao comparecer pontualmente às sete da manhã no ponto de encontro combinado. Parecia que os dois haviam concordado, ainda que sem dizer uma palavra, que o assunto “beijo” ficaria para depois do expediente. Assim sendo, seguiram os em um ritmo acelerado para o destino daquela manhã.

Não foi fácil para Celina encarar o detetive depois daquela noite abrasadora. Ela não conseguia encará-lo sem se lembrar do momento em que ele colou seus lábios nos dela. Mas tentava afastar tal pensamento sempre que surgia. Assuntos mais urgentes como a tal Nosfera S.A. aguardavam Celina.

A manhã de Oasis Springs podia ser comparada a um dia de verão com sol à pino em Windenburg. Ela não conseguiria viver num lugar tão seco e quente como aquele por muito tempo. E a presença de Logan, não ajudava na questão do calor.

Continuaram por algum tempo seguindo na trilha que levaria à antiga mina, em silêncio, apenas o som das botas na areia do deserto. Depois de uma colina inclinada e uma curva no caminho, os dois avistaram a entrada do que antes fora uma das minas mais rentáveis de Oasis Springs. Tábuas recém postas lacravam o local.

- Parece que alguém quer impedir a entrada da mina, detetive. Um trabalho bem mal-feito, na minha opinião.

- É, parece que mal tiveram tempo de bater os pregos na madeira. Está tudo meio capenga. Mas não se preocupe, agente. Essas terras são propriedade de Oasis Springs, eles tem tanto direito de trancá-las, quanto nós temos de abri-las.

Celina encarou as tábuas por um momento pensando que poderia removê-las facilmente com um estalar dos dedos. Mas isso implicaria revelar que era bruxa para Logan. Mesmo depois da conexão que pareciam ter estabelecido na noite anterior, ela ainda não sabia se era o momento de se revelar para ele.

Ela olhou para o buraco escuro do interior da mina tentando identificar algo. Com um leve formigamento na espinha, notou alguns símbolos arcanos nas madeiras que selavam a entrada. Estranho. Eram símbolos de contenção e ocultamento. Não havia como interpretar aquilo como um bom augúrio. As tábuas e os símbolos talvez não fossem para impedir a entrada, talvez fossem para evitar a saída… do quê?

Estava perdida nessas ponderações, quando percebeu que Logan se aproximava com uma picareta pequena.

- Logan, o que você vai fazer? Eu não sei se arrombar essa mina é a decisão mais inteligente. E essa picareta é pouco maior que um martelo..

- Como assim, Celina? As respostas que buscamos estão dentro desse buraco. E quanto a picareta, é verdade, pode não ser grande, mas o desempenho dela é excelente. Você vai ficar impressionada.

Momentaneamente sem fala, Celina observou enquanto Logan puxava as tábuas uma a uma, como se fossem apenas gravetos empilhados. Mesmo sem nunca ter se transformado, parecia que o detetive apresentava força e resistência maiores que um humano normal.

O esforço físico de empurrar e puxar as tábuas distraiu a mente de Logan da questão imediata: estavam prestes a entrar em uma mina escura e abandonada sem ter ideia de que tipo de situação os encontraria lá embaixo. Agradeceu mentalmente a presença tranquilizadora da sua Colt presa ao arnês embaixo do braço.

Uma das coisas que Celina havia aprendido em sua longa vida era não ficar no caminho de um lobisomem teimoso. Assim sendo, deixou Logan terminar de arrancar as tábuas enquanto o observava trabalhar. Não que observar um belo exemplar masculino usar os músculos fosse desagradável, mas sua intuição dizia que nada de bom iria sair daquela mina em particular.

Com um último puxão, as madeiras vieram abaixo e os dois espreitaram o interior escuro. A temperatura dentro da entrada do túnel era sensivelmente mais fresca, quase convidativa no dia que esquentava mais a cada minuto.

- Então, vamos entrar? - perguntou Logan, animado.

- Você não me deu outra opção, detetive. - disse Celina, de cara feia. Entretanto ela sabia que entrar naquela mina não era uma escolha. Era algo que precisava ser feito.

Logan não entendeu de imediato a hesitação de Celina, mas notou os símbolos em tinta azul pintados nas paredes da mina. Era impressão sua ou eles brilhavam levemente? Ele não sabia o que representavam exatamente, mas já havia visto sua mãe desenhar figuras semelhantes na soleira da porta da casa para qual se mudaram em Oasis Springs, há tanto tempo atrás. Seria isso que causou a mudança em sua parceira?

- Vamos, Agente. Não vamos descobrir nada parados aqui no sol. Não vai me dizer que tem medo de escuro…

Celina bufou e revirou os olhos, mas não caiu na provocação. Com passos decididos, seguiu Logan para dentro da mina.

Então, era mais fácil provocá-la do que falar do beijo, ela pensou.

Seguiram na quase escuridão, iluminados apenas por uma pequena lanterna que Logan levava, por alguns minutos. Depois de algum tempo, uma pálida luz azul começou a iluminar o caminho e a lanterna não se fez mais necessária. Acabaram chegando em uma ampla caverna com um lago, cuja luz do sol era filtrada por cristais e lançava no lugar a luz azul que haviam percebido antes. Era um lugar belíssimo, mas com o ar carregado e tenso.

- Não imaginava que fosse tão bonito aqui embaixo - disse Logan olhando em volta.

- Realmente, é bonito, mas…- Ela preferiu não dizer a sensação estranha que lhe percorreu a espinha, porque apesar de belo, aquele lugar tinha alguma coisa - o que é aquilo? - perguntou Celina para o que parecia ser uma escada oculta entre as pedras.

- Não sei, mas vamos lá descobrir.

A escada seguia por alguns metros na escuridão até uma porta de madeira trancada. Mais uma vez Celina pensou em usar magia para entrar, mas Logan usou a picareta de novo e destrancou a porta com facilidade. E então eles entraram.

– Eu não sei o que esperava encontrar aqui embaixo, mas isso definitivamente não era o que imaginava. - disse Logan um tanto confuso.

Com uma olhada rápida no lugar, Celina rapidamente identificou o que teria sido uma alcova vampírica.

– Isso… faz certo sentido. Parece que sensato para vampiros se esconder debaixo da terra na ensolarada Oasis Springs. Vamos ver o que encontramos aqui.

Em um canto do ambiente, notaram algo que pareciam com um pequeno altar, com três retratos que Celina conhecia muito bem.

– Você sabe quem são? - perguntou Logan ao ver a expressão de reconhecimento no rosto da parceira.

– Sim, sei. É a tríade de fundadores de Forgotten Hollow. Atualmente, apenas o da direita, Vladislaus Straud, está vivo. Mas não entendo, ele é um aliado importante da Agência…

– Isso aqui parece mais um altar que qualquer outra coisa. Talvez não seja Vladislaus por trás disso. Talvez seja alguém que tenha admiração por ele.

– Sim, isso faz mais sentido. Veja, há uma mesa com alguns papéis ali atrás, vamos ver o que encontramos.

Em cima da mesa havia alguns arquivos da mineradora, mas o que chamou a atenção de imediato dos dois foi uma série de pastas de relatórios que pareciam vir de um laboratório.

- Veja isso, Logan, parecem relatar o desenvolvimento de alguma coisa nesse laboratório. Veja: “Fase 3: cobaias 1, 2 e três apresentam alto grau de agressividade. Cobaia 4 parece ter sofrido séria diminuição das capacidades cognitivas, mas continua a obedecer os comandos da cobaia 1. Cobaia 1 demonstra um perfil combativo que pode ser útil, se devidamente controlado.”

Logan continuou, pegando outra pasta, leu:

- “Fase 4: As cobaias apresentam comportamento instável. O suprimento de sangue encomendado não está parecendo suprir as necessidades fisiológicas das mesmas. Recomendo fortemente o cancelamento do projeto. As cobaias não parecem controláveis.” E veja, Celina, quem assina, Jean-Paul Breton.

- O pai daquelas meninas. Mas o que isso tudo significa? O que são essas cobaias??

- Acredita que essas cobaias, poderiam ser… perigosas? Algum tipo de animal ou criatura que eles estavam desenvolvendo?

- É o que parece. Mas com que objetivo… - Celina continuou olhando os papéis em busca de alguma coisa, qualquer pista. A própria alcova ali era uma pista que não podia ser ignorada. Pertencia a um vampiro que não abriria mão do conforto ou dos prazeres mesmo envolvido em um projeto que desenvolvia cobaias sedentas por sangue. Quem poderia ser? Foi então que uma letra cursiva e bem desenhada lhe chamou atenção.

- Ah, por que não me surpreendo! - ela exclamou passando o papel para Logan. Era uma carta endereçada ao Sr Breton.

Logan pegou a carta e leu em voz alta:

- “Caro senhor Breton, tenho recebido seus relatórios alarmistas e tenho que confessar que esperava mais de você quando o contratei e a sua esposa. Suas expectativas estão em conflito direto com as do Comandante Smith, e a julgar pela experiencia deste em assuntos bélicos, tendo ao lado do comandante. Minhas ordens são para continuar no projeto. Não há possibilidade de desistência. Sinceramente, Anette Straud.” Anette Straud? Parente do Vampiro?

- Sim, filha. Acho que conseguimos o que viemos buscar, detetive. Temos um suspeito concreto para a morte do casal. E eu tenho umas palavrinhas para dar com a Senhorita Straud.

Logan sorriu. Então era isso, caso resolvido? Mas era estranho, sua intuição policial, ou seu instinto de lobo, lhe diziam que não seria tão fácil.

Recolheram as provas e se dirigiram mais uma vez para a caverna. Estava tudo silencioso e o cheiro de terra úmida os envolvia. Havia qualquer coisa de quase pacífica ali embaixo.

- É uma caverna bonita, entendo porque Anette escolheu como refúgio. - disse Celina olhando ao redor.

- Sim, é bonita. Veja, tem algumas caixas naquele canto. Acredita que possa ter algo mais sobre a pesquisa ali?

Celina hesitou. Todos os seus instintos gritavam para sair logo dalí. Mas Logan tinha razão eram várias caixas com etiquetas de diferentes lugares: Forgotten Hollow, Willow Creek, Windenburg e até mesmo Selvadorada. Estavam todas vazias, mas o que poderiam conter?

- A primeira coisa que farei ao voltar para o hotel é contactar a Agência e pedir uma equipe. Acredito que já temos evidências de que uma operação em grande escala estava acontecendo aqui. É imprescindível que nenhum civil, seja humano ou sobrenatural seja envolvido em possíveis desdobramentos disso.

Logan assentiu pensativo.

- E você pretende comunicá-los… bem, sobre a minha condição?

Celina pensou por um instante.

- Você parecia interessado nessa possibilidade. Mudou de ideia?

- Não, não mudei - disse Logan, decidido.

- Então sim, vou comunicá-los.

Foi então que tanto Celina quanto Logan sentiram os pelos da nuca se arrepiarem e a adrenalina bombear no sangue. Inconscientemente, Logan aproximou-se de Celina e a a envolveu numa atitude protetora.

- Você sentiu isso? - ele perguntou num sussurro.

- Sim. - ela respondeu no mesmo tom baixo. Os dois dirigiram o olhar para o canto escuro da onde a sensação parecia provir e observaram imóveis por alguns segundos.

Lentamente, quatro figuras sinistras tomaram forma na escuridão, com olhos brilhantes e postura ameaçadora.

- Mas que porra é essa? - praguejou Logan ao avistar as figuras bizarras que se aproximavam nas sombras.

- Acho que acabamos de descobrir onde foram parar as cobaias, Logan.

 

No Próximo Capítulo...

Agradecimento à Hortência Alves que fabricou diretamente de seu cas pessoal esses bichos estranhos, que vocês só poderão descobrir mais, no próximo capítulo rs


EI EI EI! VOCÊ QUE ACABOU DE LER...NÃO DEIXA DE comentAR à esquerda <<< assim posso conhecer sua opinião :D

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